Tk - conto de marcos samuel costa

 



 

   Pablo abriu um saquinho de plástico esverdeado que tirou do bolso da calça; sabia como trabalhar com aquilo. Dentro, continha um pó branco. Lucas ficou olhando e entendeu imediatamente, mas pensou que o outro iria apenas dar um téo, cheirar sua cocaína e foder sem preocupação de gozar rápido. Porém, não era isso. 

Sem nenhum receio, Pablo pediu para que Lucas passasse o seu dedo no pó e enfiasse dentro do seu cu. Lucas ficou calado, sem querer compreender aquilo, o que não deixava de ser uma novidade. Lucas perguntou se causava alguma liga. Pablo disse que o deixava muito relaxado, diferente de quando cheirava, que ficava agitado.

No entanto, o que Lucas não entendia era a necessidade de outra pessoa para ele ter que fazer isso, então perguntou. Pablo disse que, pelo fetiche, ele gostava dos dedos masculinos entrando em seu cu enquanto ele gemia e o pó ia aos poucos fazendo efeito.

Então é o conjunto da coisa em si, Lucas o questiona, não apenas a dedada e o pó no cu, mas o fato de ser um outro homem fazendo. Pablo assentiu, explicou que conhecia outras pessoas que faziam isso.

Lucas lhe explica que era a primeira vez que lhe pediam isso, sendo que antes já havia mijado dentro do cu de um parceiro, que também lhe pediu; outra vez colocou pepinos e até seu punho, indo até o braço, e que, se tratando de sexo e desejo, tudo é muito louco.

Pablo era mais velho, aparentava ter algo em torno dos quarenta anos de idade, morava numa vila de casas na periferia da cidade. Um espaço compacto, mas limpa e arrumada. As paredes eram pintadas de brancos e o revestimento do piso da cor marrom, o que causava certo contraste estranho. Lucas cursava o penúltimo período de arquitetura, então nada passou despercebido aos seus olhares, mas guardava apenas para si.

Sabia o quanto é incômodo aferir comentários sobre a morada das pessoas, ainda mais quando nem lhe perguntavam. Poderia achar que uma coisa não batia com a outra, mas isso pouco importava; estava ali para viver uma aventura sexual. Fora isso que tanto ele quanto Pablo estavam se propondo.

Lucas lhe conheceu naquele mesmo dia, mas, pela manhã, trocaram mensagens e nudes por um aplicativo de sexo. Porém, Pablo disse que recebia pessoas em sua casa apenas mais tarde, por conta dos vizinhos fofoqueiros. Sumiu durante o restante do dia, apareceu somente à noite.

Voltaram a trocar mensagem; Pablo disse que estava no trabalho. Trabalhava no açougue de um grande supermercado. E, além disso, quando chega em casa, lhe explicou, gosta de colocar as roupas para bater e toma um longo banho; o cheiro forte da carne parece que lhe impregnava. O que lhe causava certa ânsia de vômito, mas, como passou quase um semestre sem trabalho, contando com ajuda de terceiros, não podia abrir mão desse.

Sua rotina no trabalho era fazer os cortes; lhe escolheram pela delicadeza que mostrava ter com as mãos, habilidade em desossar, fazer os cortes bem feitos. Quando começou, foi aprendiz de um senhor meio coroa que conhecia bem essa distribuição dos cortes, sabia onde ficava a paleta, coxa mole, dura, filé, pá e tantos outros cortes. Demorou para aprender, e agora se sai bem na função. Lhe apelidam de mãos de fada.

O que lhe gera ainda o mal-estar é o cheiro forte da carne crua. O aplicativo de sexo tem lhe ajudado; vez ou outra arruma algum parceiro para se aliviar. Porém, a cocaína vinha sendo sua principal aliada, sua amiga mais confidente, em quem deposita seu amor, tempo e dinheiro. Mas as outras possibilidades também vinham se mostrando interessantes.

Lucas estava quase para ir se deitar, mas resolveu ir; não morava longe da casa de Pablo. Foi para o banheiro se preparar, fez a xuca com calma, raspou os pelos do cu, tomou um banho demorado e se sentiu pronto para ir à casa de Pablo.

Avisou que estava saindo, disso a cor de sua roupa e pediu para que ele lhe esperasse na entrada da vila. Pablo avisou como seria o esquema: ele iria na frente e o outro, sem falar nada, deveria lhe seguir. Assim fizeram. A casa de Pablo era pequena, como as casas da região metropolitana, com estilo americano de sala-cozinha com balcão no meio, poucas coisas e bastante quente.

Pablo ligou um ventilador barulhento e perguntou se Lucas queria água, mas Lucas disse que não, por ora ainda não. Conversaram um pouco e Pablo o convidou para entrar no quarto. Havia uma cama de solteiro no estilo box e cruzetas na parede que serviam como guarda-roupa, e ele pegou o mesmo ventilador barulhento e colocou em cima de um banco de plástico no quarto.

Lucas não sabia que efeito aquilo poderia ter, ou se daria a mesma liga de quando se cheira o pó. Pablo lhe explicou que é diferente, traz um relaxamento no corpo todo. Lucas pensou: já estou aqui mesmo, vou encarar. Colocou timidamente a ponta do dedo no saquinho que estava aberto. A ponta do dedo ficou branca com o pó. Pablo já estava de quatro na cama, puxando as nádegas com as duas mãos para facilitar o trabalho do parceiro.

Então, Lucas mete o dedo no cu de Pablo com a cocaína, e isso lhe faz ter um tesão diferente, sente que gostou, pois gosta de coisas diferentes, e mais uma vez repetiu, mas dessa vez sem medo. Pablo passa lubrificante, e Lucas vai mais fundo. Gira os dedos ali dentro, e o outro geme vagorosamente.

O pau de Pablo fica completamente ereto, é grosso e grande, com uma mão deda o parceiro e com a outra bate uma para ele. Não contente, Lucas coloca novamente o dedo no pó e leva até o cu de Pablo. Mas dessa vez pensa em ir mais fundo. Depois de espalhar bem, passa o lubrificante no próprio pênis e penetra Pablo.

Pablo fala entre os lábios que Lucas é um safadinho, e ele se sente exatamente assim; algo relaxa em seu corpo também, o pau fica quase amortecido, mas ainda ereto. Fodem.


 Marcos Samuel Costa nasceu em Ponta de Pedras/Marajó/Pará. É de origem ribeirinha. Foi finalista do Prêmio Mix Literário em 2021 e 2023. Venceu o Prêmio Dalcidio Jurandir 2019 e foi semifinalista do Prêmio Oceanos 2024. Livros publicados: Dentro de um peixe (Romance, ed. Folheando 2019), O cheiro dos homens (IOEPA 2021), No próximo Verão (poemas, ed. Folheando, 2021), Os abismos (poemas, ed. Folheando, 2022), Os desertos (poemas, ed. Folheando, 2023), Os vulcões (poemas, ed. Folheando, 2024), Sol forte na pele (contos, ed. Folheando, 2023) e Óculos escuros (contos, ed. M.inimalismo, 2024). Além disso, mantém o podcast “Paisagens”. Faz parte da antologia "Homem com homem: poesia homoerótica brasileira no século XXI" com organização de Ricardo Domeneck (ed. Ercolano, 2025).






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