carpas - poemas de marcos samuel costa

 

Egon Schiele


Carpas

 

 

Os dois corpos
carpas balança
do tempo
em dia longo
caminho serão
santos, profanos

  •  

Janelas contra a porta
telhado aberto contra
o céu nem sempre sol
tampouco mel de noite
fel do ar e seu robusto

não

  •  

O raio de sal
sol de fruta, juventude
bate na janela
do segundo andar
calçados optam
pela penumbra do
envelhecer

  •  

Formas geométricas de-
formam o teto do abrigo
inferno que desliza
para o barro do
último pedido

ensaio

  •  

Os corpos carpas deslindam
do rochedo uma
rachadura, vertigem
aberta se estende
para a parede
em soma de zero
e zero
como se dissesse:
menos um

  •  

Árvore que vira as costas
encara as ruínas
que a soma dos zeros
produziu
cimento emparedando
olhos

  •  

Não vemos
seus olhos deixam de
pertencer a esse mundo
sua camisa de algodão
toda juventude
do outro lado
o anjo de metal
com seus raios de morte

amém

  •  

Concreto milagre
abertura nos fios
negros do
cabelo grosso

não move
não moverá
nunca mais
o movimento

  •  

Deus com seus fios
de cabelos brancos
reino sexual do mundo
antes da tempestade
mesmo medo finda
e destrói

  •  

O zero não gera
encontro nem duplicidade
pesadas pupilas
olhos cansam, deitam
escurecidos envelhecem
as frutas

os dois corpos
carpas balança
do tempo
dormem



Marcos Samuel Costa nasceu em Ponta de Pedras/Marajó/Pará. É de origem ribeirinha. Foi finalista do Prêmio Mix Literário em 2021 e 2023. Venceu o Prêmio Dalcidio Jurandir 2019 e foi semifinalista do Prêmio Oceanos 2024. Livros publicados: Dentro de um peixe (Romance, ed. Folheando 2019), O cheiro dos homens (IOEPA 2021), No próximo Verão (poemas, ed. Folheando, 2021), Os abismos (poemas, ed. Folheando, 2022), Os desertos (poemas, ed. Folheando, 2023), Os vulcões (poemas, ed. Folheando, 2024), Sol forte na pele (contos, ed. Folheando, 2023) e Óculos escuros (contos, ed. M.inimalismo, 2024). Além disso, mantém o podcast “Paisagens”. Faz parte da antologia "Homem com homem: poesia homoerótica brasileira no século XXI" com organização de Ricardo Domeneck (ed. Ercolano, 2025).

 

 

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