Águas escuras - marcos samuel costa
L auro estava trabalhando em um transatlântico havia seis meses e, desde que começou a trabalhar, colocou em sua cabeça que esse trabalho não deve ser por muito tempo, que o quanto antes precisa mudar, que precisa se firmar em outro lugar. Viver em alto-mar é difícil, muitos dias navegando, atendendo pessoas ricas e cheias de não-me-toque e exigências terríveis. Lauro atua como cabeleireiro e maquiador dessas pessoas ricas; chegou a cuidar dos cabelos de uma princesa escocesa durante uma viagem pelo litoral do Rio de Janeiro, de cabelos de ministras, de pessoas importantes, dos deputados enrustidos que sempre acabavam chupando seu pau depois do serviço. Reparavam o volume em sua roupa e começavam a passar o cotovelo “sem querer”, a fazer perguntas mais e mais invasivas. No entanto, sempre deixavam um agrado. O importante eram os agrados que ficavam; isso é que tornava esse trabalho suportável, pensava Lauro sempre que se via diante de um surto de ansiedade nas longas travessias....




