O profundo - conto de marcos samuel costa

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Celton passou o resto da manhã sozinho. Foi apenas no centro comprar alguns alimentos. Mas logo voltou para sua casa, sua solidão. Ficou folheando umas páginas envelhecidas, revirando a memória e com um peso deitado sobre as lembranças. Não deixou partir o quem deveria ter partido de manhã, logo cedo com a viagem do barco. Ao contrário, deixou em si uma presença impossível. Como as sombras dos pássaros que ficam quando eles longe já voam. Seja por seu lado mais humano, seja pelo amor que ainda era capaz de sentir, deixou. 

Na noite de quinta-feira da semana que passou, Celton ligou para Pedro, depois de muitos dias, aliás, depois de meses de silêncio. Aquele início de conversa duro. Como se procurasse palavras, motivos, algo que ajudasse com que as coisas avançassem. Eram mais de oito horas da noite, as janelas da sala estavam abertas e vinham muitos barulhos da rua. Não tinha mais ninguém na casa além de Celton. 

 – Alô, Pedro?

 – Oi, sim, sou eu Celton!

 – E aí cabeção – Celton falou tentando quebrar o gelo. 

 – E aí? – disse Pedro um pouco seco, parece que a tentativa de Celton não dera certo.

Celton estava um pouco nervoso. Sentou no sofá e respirou um pouco antes de retomar a conversa. Parecia que era muito difícil para ele.

 – Pois é... Te liguei para perguntar, porque tu me bloqueaste no WhatsApp?

 – Não te bloquei – disse Pedro um pouco firme.

 – Bloqueou sim, eu vi que estou bloqueado.

 – Não, eu não te bloqueei. Só apaguei teu número.

 – Como pode ter só ter apagado meu número? Só? Isso é pouco?

 – Tu ficaste estranho também, não falavas comigo. Achei melhor me afastar.

 – Certo, tudo bem. Me aborreci contigo, tu disseste que verias me visitar e não veio, te esperei em vão.

 – Não deu certo. Tive outro compromisso.   

 – Tudo bem. Se quiseres podes vir amanhã, ficas em casa comigo e minha família. A gente conversa um pouco sobre nós dois, e tudo que não aconteceu e tudo o que ainda pode acontecer. Tu sempre dizes que me amas, acho que essa é a hora de me mostrar, provar alguma coisa, atravessar e vir me ver.

 – Tá certo então, eu vou. Para falar a verdade, ando com saudades de ti. Tens dias que passo o dia todo lembrando de nós dois. Não consigo te esquecer e não encontrei outra pessoa, um sexo igual ao seu... Cansa conhecer outros caras, cansa. Os caras e suas mentiras. Parece que é sempre a mesma coisa...

Na sexta pela manhã Pedro chega. Celton o recebe em casa, com cada cômodo arrumado. Com cada parte do seu corpo um pouco estável, estava nervoso. 

Estava preste a completar um ano que tinham se separado e cada um vivendo num lugar diferente. Poucas vezes se viram depois disso. Agora Pedro tinha vindo lhe visitar. No meio da tarde foram para a praia de moto. Pedro parece tão meigo e carinhoso. Por algumas horas tudo parecia uma continuação do que foram, do que se perdeu. 

A praia estava com o mar alto. Deixaram os chinelos, as camisas e a bolsa na areia e foram mergulhar. O silêncio das ondas, das águas, na parte maior de toda a criação lhes invadia o corpo numa chama azulada. Se olhavam como dois garotos descobrindo a sexualidade. Celton sente no ar o cheiro que sempre encontrou na pele de Pedro. Então disse meio em sussurros e gritos contidos, sempre aproximando e abraçando o outro: 

 – Continuas com o mesmo cheiro, nunca esqueço, é então bom, tão bom. Ter você aqui é tão bom... 

Pedro pergunta que cheiro é esse. Celton só lhe diz:  – É o teu cheiro, o cheiro de sempre, o cheiro que sempre sinto quando deitávamos juntos a noite para dormir, o cheiro que estava na casa quando eu acordava ao teu lado, o cheiro presenta a cada vez que voltávamos porres das baladas. O cheiro que nem o álcool era rapaz de afastar, nem o sexo, nem a fumaça dos cigarros. O teu cheiro de homem. – Depois baixou os olhos por alguns segundos e percebeu a águas correndo lentamente, levantou os braços e abraçou Pedro.

 – Eu sei muito bem do que falas, também sinto teu cheiro. O perfume de sempre, só teu, que existe só na tua pele, com ou sem mar e sal, com ou sem raiva, o teu cheiro que sempre lembrou o amor. Como no dia que tirastes minha virgindade, teu toque suave, tua pele molhada e o cheiro forte do homem que passei a amar, tu Celton. – Quando Pedro parou de falar, deixou seus lábios tocarem os de Celton.

A tarde estava preste a se findar, tinham poucas pessoas na praia e os dois abraçados dentro do mar balançavam com as ondas. Não era preciso falar nada, só os beijos eram suficientes, os toques, o profundo abraçado carregado de amor e saudade. 

- Marcos Samuel Costa










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