Volto para casa com um abismo - um poema de Marcos Samuel Costa


(by marcos samuel costa)




Volto para casa com um abismo
De estimação
Que nem aqueles bichos de rua que a gente
Alimenta e eles acabam nos seguindo,
O abismo come muito,
Engorda rápido, fica mais pesado a cada dia,
No lugar de pelo, cocô e xixi pela casa
Ele deixa solidão, saudade e ansiedade

Hoje de manhã pisei num monte de solidão
Não adianta o quanto eu diga:
“Sai daqui Lilu”,
Ele não se move
Me olha com os olhos baixos e volta a dormir

Volto para casa com um abismo,
De início parecia pequeno,
Pensei que poderia controlar,
Que daqui a pouco ele faria uso da porta da rua,
Que eu teria energia para ir malhar,
Pegar uma praia e pedalar na cidade aos domingos
De manhã,
Mas ele cresceu,
Vi logo que não era um simples buraquinho
De araco, muito menos buraco de sarará morar,
Era meu abismo e minha morte

Ontem pensei em ir numa igreja,
Receber orações e fazer uma boa campanha,
Ligar para os amigos e pedi ajuda,
Tomar um banho e lavar bem o meu saco,
Mas acabei desistindo,
Liguei a TV e lembrei de onde surgiu tanto desamor

A praia estava ensolarada
Teu rosto vivo e rosado
Teus olhos pesados contra a pupila
Sempre te imaginei feliz,
Correndo de sunga e acenando para os colegas,
Mas tudo deu errado
Os cartões atrasaram
Contas acumularam e não deu para
Pagar o aluguel
Sai emigrante do teu peito
Com saudade enorme de voltar

Volto para casa com um abismo
E lhe tomo como de estimação.






Marcos Samuel Costa - Poemas 2018
sou poeta e nas horas vagas faço versos de amor para carações que ainda acreditam em coelhinho-da-páscoa. 

Comentários

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