O coração da mãe - poemas de marcos samuel costa

 

djanira 

O coração da mãe

 

a morada respira
com o coração
da mãe
 
o coração da mãe
é onde durmo
nas noites de luto
 
quando bate na madrugada
as asas dos galos,
então:
um hino vindo
deles
ocupam a noite,
a vida,
a cama e a casa:
íntegra, íngreme
 
o coração da mãe
seja como planta
na parede,
que vai descendo
pelo ar,
até ocupar
as vozes dos galos.
 
então acordo,
já amanheceu,
o dia se faz sol
e o coração da mãe resiste
mesmo ferido.

Madrugada

 
na cozinha
estabelecemos
o altar invisível
 
quatros folhas
diferentes de tajás
a imagem como
um raio que
incendeia um tronco
 
na mata úmida
de tua boca
ouço o bom-dia
para a imagem que
agora habita
nossas vidas
 
em areia e argila
pedes que a chuva passe
pedes que o mundo não
acabe em dilúvio
 
finjo dormir
e meu corpo
é levado pelas
águas que inundaram
a madrugada
 
sinto adoecer do estômago
talvez seja outra crise
de ansiedade
e pensamentos
ruins
 
mas farei o mesmo
preces a avó que
agora mora conosco.

Cosmópolis
 
 
para esse infinito
de concreto
aço onde tudo se
move rápido
se move
corre rapidamente
morre
a lembrança da tua vida
mãe que algum
pássaro te fale
que horas são agora
 ação necessária que
permita um abraço
meu distante