ou quatro poemas de marcos samuel costa

 

Paul Klee

ou quatro poemas de marcos samuel costa

Amistosamente

Devo te confessa

que hoje
tomo três
remédios psiquiátricos
por dia
 
(hemifumarato de
quetiapina
cloridrato de
sertralina
cloridrato
de bupropiona ou fantasmas
e alucinações)
 
me afogo na pia
do banheiro
e tenho a impressão
que o chão
não é firme
não tomo mais
álcool
sem bares e cervejas
 
me queimo com
o ferro elétrico
e não mais
fumo nenhum cigarro
 
confundo
o dia com a noite
a escuridão
com a cristalinidade
do teu olhar
 
tomo três
remédios psiquiátricos
por dia
e sinto que
tudo se anestesiou
 
que não serei
capaz de gritar
nem correr
tudo se deita
sobre minha vida
antes que me deite
a noite para dormir

Desbragadamente

 

é amistosa
a maneira
que construo
o nosso amor
no verão
 
que descubro a
não-serventia
(formas de desuso)
das formigas
mortas
que coleciono
dentro dos
potes-de-vidro
 
é amistosa
a maneira
que tento te destruir
todas as vezes que
tento cuidar
dos teus ossos
ao sol forte
 
mas mesmo
assim
apenas os destruo
quando minha
intenção é amar

 

Fogo

 

pus fogo
(nessa chama
o primeiro
a se queimar
fui eu)
 
 (gasolina  
            lágrimas
                          lamentos
gás)
 
em tudo que era
nosso
pega fogo
 
esse corpo de
cálcio e magnésio
frustação
e desgosto
que caminha
sem paciência
 
a boca do fogão
da cozinha está
aberta
 
em consumação
a vida
nossa vida
de casal
homoafetivo
 
arderá até
o amanhecer