Me vingo do meu pastor e seu cajado - conto de marcos samuel costa

 



Me vingo do meu pastor e seu cajado

 


    A voz do meu falso pastor. Daquele que acalentei em meu braço e chamei tantas vezes de meu amigo. Tomei-lhe o cajado e fiz meu. Tão profundo. Ardente. A festava estava lotada. A visão daquilo tudo me parecia um certo inferno em terra. A boate era ampla, mas a impressão era que estávamos todos apertados. Um lutando contra o outro. Numa intensa caça que se fazia íntima, e no centro, tinha algo que lembrava um ringi de luta. Era lá que se lutava pela sobrevivência. Beije-lhe a boca, trouxe até minha garganta, no meu mais profundo, seu tronco, seu membro, seu tanto vivo sexo. Sei como exatamente a geografia das veias que lhe correm no pênis.

E nas laterais da casa noturna, ficavam os camarotes das bichas que podiam pagar mais caro. Mas mais do que isso, era nele que repousava meus pesados anseios, lhe confiava a verdade e a mentira. Acendemos tantos becks. Era nossa unção. A maconha. Pablo era tudo. Minha perdição. E no meio da balada muitos caras já sem camisa, a maioria bêbados e dançando. Alguns fazendo seu programa, garantindo sua grana. Nessas festas tendo a perdição. E me permito a tudo. Deixo que meu corpo seja de quem o quiser. Que o viole, que o beije, chupe e use. Assim como faço dos corpos alheios.

Vez ou outra alguém vinha no meu ouvido: “Lucas, tu és uma delícia”, e isso me deixava excitado. Como sempre misturo álcool e drogas, fica ainda mais intenso. As ondas de gozo e força, invadem a praia deserta da minha vida. Lá não quero pensar nos trabalhos atrasados do mestrado, nem em qualquer cálculo atrasado dos exercícios, muito menos pensar nas aulas, nos professores, na prova de proficiência em língua inglesa e nem na dissertação que terei que escrever. Faço-me apenas carne e desejo.

Não ando perguntando nada sobre os caras que beijo, raramente seus nomes, não pergunto quais são suas redes sociais e nem onde moram. Aprendi rápido a regra, tudo o que temos e é possível ter nesses locais, é instantâneo, momentâneo e se acabará com a madrugada. Meu cartão de crédito anda nas alturas. Vejo-me perdendo em dívidas nesse vazio sem fim, mas que é saboroso. Nessa segunda festa, tudo era mais caro, os drinques caros. O perfil das pessoas era diferente. Luxuosamente me destruo.

Ficamos até a última música, até a última boca ser beijada, uma gozada no banheiro, uma dupla penetração no dark room, várias garganta-profundas, meu saldo sempre negativo e positivo. Naquela noite iriamos dormir na casa do Pablo, o meu pastor com grande cajado.

Chegamos na casa do Pablo de madrugada. Ele morava bastante longe e com isso a corrida até lá foi cara. Já tínhamos saído de duas festas. Estávamos bêbados. Pablo foi o primeiro a ir tomar banho. Morava sozinho num apartamento pequeno. Fiquei no quarto com o Lino. E como antes já tinha acontecido, nós nos beijamos.

Lino e Pablo estavam se envolvendo, mas não era nada sério. Ambos tinham pegado muitos caras bonitos na festa. Pablo é um jovem alto, magro, bonito. Sempre atraia para si as atenções. Em certo momento já na segunda festa, sumiu para dentro do banheiro escuro. E ficamos dançando. Lino é baixo, tem o corpo definido e muito simpático.

Foi com a certeza que não tinham nada sério, foi por meu desejo de beijar o Lino, foi por tantas coisas. E lá estamos nós dois na cama do seu amante. Pablo chegou e nós nos pegávamos sobre sua cara. A mão de Lino estava na minha bunda, seus dedos já me dedavam e eu gemia. Pablo não disse nada, ainda continuamos por alguns minutos. Lino foi tomar banho e ficamos eu e Pablo no quarto.

Imediatamente senti que ele mudou, que estava estranho. Essa bicha sempre foi assim. Pensei nos tantos caras que ela me roubou, os tantos que estava me envolvendo ou sentindo alguma coisa, e ele sem pensar em mim, ficou também. Sentir alguma felicidade de pensar que ele tinha sentido o que sempre sinto.

Depois de Lino fui eu que tomei meu banho. Quando retornei ao quarto, estava um clima pesado. Com certeza tinha acontecido uma briga entre eles dois, me matinha calado. Naquela hora queria que todos se fodessem mesmo. Que Pablo engolisse toda a sua arrogância. Queria ter sido mais rápido e ter dado para o Lino em sua cama. Queria ver os olhos de Pablo se deparando com a semana. Que soltasse fogo dos olhos, das narinas, que fosse para casa do caralho.

Pablo não aguentou e fez o escândalo que estava esperando. Mandou todo mundo embora da casa dele. Que saíssemos logo, pois ele estava esperando um cara, iria fazer um programa. Sabia que era mentira, ele não tinha condições de fazer um programa. Estava bêbado demais e de onde tiraria naquela hora alguém para o pagar?

Estava longe de casa e sem dinheiro. Lino a mesma coisa. Ele ainda não era assumido em casa, seus pais eram evangélicos, e não podia levar ninguém para sua casa. Mas estava na rua, eram quase duas horas da manhã de um domingo para segunda-feira. Não tinha nenhum hotel ou motel pela proximidade, mesmo que tivesse, com qual dinheiro iríamos pagar?

Lino virou para mim e disse: “Não tem jeito, teremos que ir para minha casa”, e eu disse: “É nossa única opção, não tenho como voltar para casa agora e nenhum motorista aceitará agora ir para estrada de Outeiro”. Formos para casa dele. E para nossa má sorte, nessa noite péssima. Seu avô acordou quando abríamos a porta. Nos viu entrar e subir para o quarto. Mas não disse nada, me joguei na cama e pensei em como aquela noite estava sendo louca.

Lino virou para mim e me disse que queria me comer. Talvez pela adrenalina de pensar que seu avô ouvia atrás da porta, ou por ter passado por tudo aquilo até chegar lá. Também quis. Tiramos a roupa. Ele passava a mão por todo meu corpo e eu no dele, não nos importávamos com o barulho que estávamos fazendo. O chupei. Depois de lubrificado sentei nele. Transamos até os dois gozarem e formos dormir. Se o avô dele ouvia ou não atras da porta, não importava. O importante era que me sentia vingado.




Marcos Samuel Costa é poeta, contista e romancista.

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