cinco poemas - marcos samuel costa
Salada de tomate
O
dia não é especial
mas resolvi fritar coxinha-de-frango
fazer salada-de-tomates
ainda há remorsos que o tempo deveria ter apagado
há ilusões obsessão de acreditar que o tempo santifica
há saudades de cenas e dias semana e acontecimentos
reuniões e almoços comidas-casa-cheia
outras cenas que não cabem dentro deste
olha com calma, sinto os olhos dele
para a manhã que acordei cedo e fui caminhar
atravessei o canal olhando para as águas sujas
para os cachorros magros gatos só olhos
ruas movimentadas e a poeira alta que nos cerca
mas o dia não é especial
não irei fazer nenhuma ligação ou
embarcar para uma visita
acordar cedo e ajudar os preparativos
ou ir comprar um último ingredientes que falta para a ceia
para glória
a coxinha-de-frango ficou crocante
e os artifícios da ilusão são magníficos
funcionam como magnas na terra
a salada-de-tomate lembrar
como funciona a acidez da vida.
mas resolvi fritar coxinha-de-frango
fazer salada-de-tomates
ainda há remorsos que o tempo deveria ter apagado
há ilusões obsessão de acreditar que o tempo santifica
há saudades de cenas e dias semana e acontecimentos
reuniões e almoços comidas-casa-cheia
outras cenas que não cabem dentro deste
olha com calma, sinto os olhos dele
para a manhã que acordei cedo e fui caminhar
atravessei o canal olhando para as águas sujas
para os cachorros magros gatos só olhos
ruas movimentadas e a poeira alta que nos cerca
mas o dia não é especial
não irei fazer nenhuma ligação ou
embarcar para uma visita
acordar cedo e ajudar os preparativos
ou ir comprar um último ingredientes que falta para a ceia
para glória
a coxinha-de-frango ficou crocante
e os artifícios da ilusão são magníficos
funcionam como magnas na terra
a salada-de-tomate lembrar
como funciona a acidez da vida.
Nota
sobre um antigo beijo recente num bar da cidade
Aos
beijos os dois homens
carregam a imensidão em instantes
as bocas como dois vulcões
se encontram em magma sobre a terra
as bocas como precipício
caem e deslizam a terra para o encontro
se encontrem no breve instante que é o antigo beijo
o beijo primitivo dos homens alucinados
pelo luar arcaico e paranoico
o bar como lugar possível
não para o amor, mas para os breves encontros de lábios
o encontro das bocas que não viam
margens ou praia há muito tempo
estalar a estrutura firme das casas
famílias inteiras da pequena cidade
se sentem ameaçada pelo beijo dos dois
desmorona o ror sobre eles
os punhos fechados num soco brutal
brutal luta contra os corpos que deixam os lábios úmidos se beijar
a imensa mesa do bar não servirá de cama
não servirá de teto
carregam a imensidão em instantes
as bocas como dois vulcões
se encontram em magma sobre a terra
as bocas como precipício
caem e deslizam a terra para o encontro
se encontrem no breve instante que é o antigo beijo
o beijo primitivo dos homens alucinados
pelo luar arcaico e paranoico
o bar como lugar possível
não para o amor, mas para os breves encontros de lábios
o encontro das bocas que não viam
margens ou praia há muito tempo
estalar a estrutura firme das casas
famílias inteiras da pequena cidade
se sentem ameaçada pelo beijo dos dois
desmorona o ror sobre eles
os punhos fechados num soco brutal
brutal luta contra os corpos que deixam os lábios úmidos se beijar
a imensa mesa do bar não servirá de cama
não servirá de teto
Nota sobre o amor
no mar
Meu amor irá fazer
uma trilha na mata
pela manhã e abrir os pensamentos em folhas
em raízes profundas e respirar a terra
saudável da cidade doente
não irei para praia e nem lerei folhas de livros
contendo poesia e filosofia
ficarei em casa e farei parte do corpo do sofá
os passos doentes da cidade doente
estou na ilha e ele no continente
o beijo terá que esperar outras tantas auroras
outros tantos raios solares pela manhã
a chuva intensa do amor jovem
os bares desertos e mares agitados
habita o coração de quem ama
pela manhã e abrir os pensamentos em folhas
em raízes profundas e respirar a terra
saudável da cidade doente
não irei para praia e nem lerei folhas de livros
contendo poesia e filosofia
ficarei em casa e farei parte do corpo do sofá
os passos doentes da cidade doente
estou na ilha e ele no continente
o beijo terá que esperar outras tantas auroras
outros tantos raios solares pela manhã
a chuva intensa do amor jovem
os bares desertos e mares agitados
habita o coração de quem ama
A
O
beijo, tecnicamente, não tem duração precisa
É como um raio, mas se aprofunda como enchente
Rápido ou lento, movimenta músculos adormecidos
Acorda homens que já haviam morrido.
B
Beijar
é a forma mais primitiva de relação
Línguas que se estendem e comprazem
Pedras que soterram e erguem vida e morte
O mineral mais antigo é na garganta que habita
C
Beijos
gregos quero neste dia
É como um raio, mas se aprofunda como enchente
Rápido ou lento, movimenta músculos adormecidos
Acorda homens que já haviam morrido.
Línguas que se estendem e comprazem
Pedras que soterram e erguem vida e morte
O mineral mais antigo é na garganta que habita
Romper
a resistência do ferro
A
tua voz é mais forte que
o ferro do portão
de ferro chegas à noite
suado e sem camisa
apenas a calça jeans e a bota escura
mas nas tuas mãos as rosas
vermelhas como estes olhos
que tanto deságuam
detém, por um segundo, o fluxo
intenso dos carros
homens cachorros que cruzam a cidade
é bonito ver teus olhos
jantarmos em silêncio
confusos porque romper o medo
causa estranhamento
eram tantas perguntas
mas não fiz nenhuma
As horas que trabalhavas no supermercado
não abatem teus olhos
são firmes as ondas
o vento que atravessa o quarto
brilha intensamente na mesa
não há diários de jovens casais gays que
passam a morar juntos numa grande cidade do Norte
mas sei que não somos os primeiros
atravessas o denso ferro
o denso portão
para outra vez encontrar o beijo
e atravesso esse deserto
e te vejo com as mãos cheias
de rosas.
o ferro do portão
de ferro chegas à noite
suado e sem camisa
apenas a calça jeans e a bota escura
mas nas tuas mãos as rosas
vermelhas como estes olhos
que tanto deságuam
detém, por um segundo, o fluxo
intenso dos carros
homens cachorros que cruzam a cidade
é bonito ver teus olhos
jantarmos em silêncio
confusos porque romper o medo
causa estranhamento
eram tantas perguntas
mas não fiz nenhuma
As horas que trabalhavas no supermercado
não abatem teus olhos
são firmes as ondas
o vento que atravessa o quarto
brilha intensamente na mesa
não há diários de jovens casais gays que
passam a morar juntos numa grande cidade do Norte
mas sei que não somos os primeiros
atravessas o denso ferro
o denso portão
para outra vez encontrar o beijo
e atravesso esse deserto
e te vejo com as mãos cheias
de rosas.
Marcos Samuel Costa é escritor, poeta e editor. Nascido na cidade de Ponta de Pedras / Ilha de Marajó-Pará, mora atualmente entre as cidades de Belém do Pará e Ponta de Pedras. Tem dois romances publicados “Dentro de um peixe” (editora Folheando), “O Cheiros dos Homens” (Prêmio Dalcídio Jurandir -IOEPA/2020), o livro de contos “Sol forte da pele” (editora Folheando, Prêmio Uirapuru de literatura 2022) e alguns livros de poesia, entre eles: “No próximo verão” (editora Folheando – finalista do Prêmio Mix de Literatura 2021), “Os abismos” (editora Folheando). Edita a Revista Variações e organiza o prêmio voltado para literatura LGBTQIAP+ com o mesmo nome.
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