Antes do sol bater na porta - Poemas de Marcos Samuel Costa

 



Pedro, águas profundas  


Em direção

a minha boca trago a sua

 

águas profundas

teus lábios sem superfície

 

longe do sol

e da terra do mal

 

sinto toda a respiração

volto a fechar os olhos

 

otra vez

solo tua imagen, Pedro

 

Antes do sol bater na porta

 

Dois homens pretos

se amam em segredo

 

a festa do casamento

foi abandonada

 

os doces perderam o sabor

sua língua que não conhece

 

a carne nem quer visitar

o passado

 

dois homens terão

que viver em segredo

 

no fundo de um oceano

as margens de uma tarde

 

fazendo amor pela madrugada

antes do sol bater na porta


O mundo era você

 


Na primeira vez
que nossas peles
ficaram 
coladas
lado a lado
ao sol
parecemos ser apenas
um, disse Pedro
camaleões que sintam
inveja de nossa
invisibilidade
 
ninguém me ver
ninguém me toca
contigo sou
a camuflagem
 
no teu peito
de pelos
e carne
no teu peito
onde repulso
e sinto o amor
de um homem
me deito
alguns te chamam
de Paulo 
outros de Paulinho
mas te chamo de meu mundo


Lição para adultos  

 

 

A casa dos sonhos
foi derrubada
livros queimados
parentes esquecidos
 
uma vida afunda
diante das mudanças
um gay sempre parte
de casa
e nunca sente
possível voltar  
 
passaporte, viagem
seus abismos
nada se ver

 

 /

Felicidade

 

Calado, Paulo caminha
os olhos semifechados  
 
não sabe mais
amar, nem lutar
 
juntou suas coisas
e saiu de casa
só existe a tempestade
e o sexo de Pedro



Marcos Samuel Costa


Comentários

  1. UAU ! Parabéns pelos poemas, estão muito bons.

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  2. Caracaaaa !!! Que lindos poemas ❣️😍 parabéns !

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  3. Interessante... Pude observar algumas coisas realmente relevantes em várias direções possíveis. Internamente, há a elipse de um diálogo com o mundo. Mas nesse tal diálogo, não existe a figura tradicional das vozes antagônicas, ao invés de diálogos abertos, percebi sulcos de pensamento! Mas não sulcos abertos artificialmente - e sim abertos pela ação natural. Como se o texto fosse um TRONCO deitado no leito de algum rio... Sendo consumido aos poucos por ávidos peixes e moluscos. A palavra em plena essência.

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