Teu signo, Fernando - conto de Marcos Samuel Costa
Entre tantos corpos, o teu, entre tantos, tu Fernando, entre tantos rostos, o teu rosto, foi para onde olhei, só, para onde não deixei de olhar, teu sorriso, tua alegria, teu corpo que dançava, tudo isso, todas essas coisas, Fernando, foram me chamando a atenção, te olhava e depois parava, depois voltava a olhar, até tu me perceberes Fernando, até nossos olhares se encontrarem. Lembro que me seguiste até o banheiro, me esperou sair, me beijou e ainda tiveste coragem de dizer que não tinhas ido atrás de mim, eu só ri comigo mesmo, não podia dizer ainda na tua cara, Eu sei que é mentira, que viste atrás de mim. Teu beijo foi tão bom, te achei um homem grande e bonito, fiquei pensando como uma pessoa como tu tivestes olhos para mim. Sabe Fernando, o mundo é duro, o mundo é triste, eu estava feliz naquele momento, mas eu sabia que tudo era triste, o presidente chamava de biola quem tomasse o refrigerante maranhense da marca Jesus, Sim Fernando, aquele refrigerante rosinha e gostoso, mas muitas coisas piores aconteciam, muitas coisas piores acontecem nesse país de maricas e maricos, na próxima segunda-feira por exemplo, posso ser demitido do emprego caso o prefeito não se reeleja, mesmo sabendo que posso ficar sem dinheiro, sem novas roupas, sem o mínimo para me manter, pois escrever poemas, resenhar livros, ler compulsivamente como tenho lido, não traz nenhum dinheiro, não posso me manter com nenhuma escrita, mas quis acreditar na felicidade, acreditar em ti, não que nosso amor, acho que uso de maneira precipitada esse termo, amor, ouço tua voz quase gritando, Que amor já Sebastian, que amor? A gente se conheceu ontem, não foi mais duma vez que fizemos sexo, nunca nem saímos para jantar e tu queres chamar de amor?, te diria, Só não grita, aqui mesmo que em sussurros posso ouvir tua voz gris atravessando paredes, penso em ti, penso num homem que tinha acabo de beija, lembro de tua voz me dizendo, Tu és muito gatinho cara, e eu te respondi, Te achei muito bonito também, neném. Tudo acusava, minha voz, meus atos, meu carinho, tudo com a ajuda do álcool, apontavam caminhos, e ele era a paixão abrupta, foi rápido, intenso, mas voltando, não que nosso amor pudesse representar estabilidade financeira, ou que eu tivesse contando com algo que fosse teu, mas teria alguém para me acolher, um ombro para deitar, sabe Fernando, essas coisas são tão importantes. Qual semente eu plantei? Vejo germinar tanta dor e sofrimento, o que eu fiz? Eu deixei que tu semeasses em mim, nessa terra seca, mas como nasceu alguma coisa? Também não entendo, estou na casa da minha mãe, Fernando, logo cedo andei por seu jardim, vi num vaso algumas mudas de girassóis anões, lembro que a mamãe falou há meses que tinha plantado as sementes, e agora crescem, estamos esperando as flores, mas só chove, chove muito, todos os dias, é novembro, o mês anda apresado, todos querem que esse ano ruim acabe logo, rapidamente, acabe logo, eu também Fernando, seja para ver as flores que nasceram, seja para ter outra vez esperança de felicidades..........................................mas me diga uma última coisa, és do signo de Áries com qual ascendente? Sei que isso não importa, mas gostaria de saber, saber para usar como balsamo, para poder pensar que foi culpa do teu signo, para não senti que foi minha culpa, que posso ser um homem frio, sem um bom sexo, um homem pouco interessante, eu sei, sinto que é inútil, que quanto mais insisto mais me firo, me humilho, me angustio, amanhã vou no terapeuta, vamos conversar sobre tudo, sobre tu, sobre essa solidão que sinto..........................................................., sabe Fernando, não vejo meus amigos com essa pandemia, se não iria chamá-los para virem beber em casa, faria uma farofa de carne seca e qualquer outro recheio, compraríamos um vinho barato ou eu faria drinks, iriamos ouvir músicas alternativas e dançar, só dançar, eu não iria revelar nada, não iria dizer que estou destruído por todas as partes, iria só dançar, Fernando, como dançamos em nossa primeira vez.
Marcos Samuel Costa é poeta e editor
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