Três poemas de Marcos Samuel Costa

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(Picasso)

Outros barulhos 01

aonde vou
e onde chego
é por causa do barulho,
fujo de mim, do tempo comigo,
das horas silenciosas que tenho
que me encarar
olho osso por osso
vejo a carne pesar sob pedras
do meu deserto triste e longo
(Ele mora entre
minhas
orelhas
debaixo dos meus
cabelos)
Na sexta-feira que nasce,
busco o barulho,
a morte da paz.
Sinto medo de ter que falar comigo,
de dizer: não morra, ame outra vez!
deixe esse sofrimento e veja a luz na porta,
os dados rolam no chão da sala,
entre livros, ratos, filmes,
relatos e poeira.
Sinto medo de me perguntar com revolta: mas tu sabes a dor que sinto?
E com desânimo responder: sei.
Por isso vou ao barulho,
ando tão abismal.

Estou longe

Ando longe daquele que eu dizia amar,
longe de um amor, então,
longe de uma morte,
longe de uma dor,
minha casa fica fora do continente.
Faz sol, a luz chega
antes da estrela maior
no horizonte,
é calma essa brisa
feito fumaça na mesa,
as mãos frias
É calma essa lembrança
que faz sofrer,
como gato que passei
entre casas e muros altos.
Estou longe.

O valor de uso do beijo


O valor de uso do beijo,
quem comprar ou pode mensurar?
na fria noite sob o lençol misto,
feito o lanche, comido o dia,
amando a fome
o toque na pele vale
algum mineral, pele verde,
quente, úmida,
a cratera é aberta durante a semana.
terra a milhares sendo espalhada,
você vai fundo, quer sua recompensa
quanto vale o pássaro sem asas?
é sem valor, como beijo,
tua boca mista, teu dinheiro não compra.
suave e cúmplice,
raio longo, piscina rasa,
sinuca a ganhar valor de uso
uma ficha, duas tacadas,
uma cerveja, teu olhar,
tudo caminha para o abismo:
dentro dele vejo que é sua boca,
o beijo imensurável.



Marcos Samuel Costa

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