Dois e não um - conto de Marcos Samuel

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(fonte google)

- estou perdido.
- mas onde queres chegar? tinhas local almejado?
- sim.
- tinhas né, foi o que imaginei, tu sempre foste ambicioso.
- isso é um problema?
- sei lá, sei lá cara, isso é contigo?
- comigo?
- olha, da tua vida só tu toma conta, pelo menos teria que ser assim, teoricamente.
- teoricamente. não te falei a metade.
- começa.
- de qual parte?
- de qualquer parte, desde que te alivie.
- alivio...
- vamos caminhando? 
- vamos.
- o rio tá com a maré cheia.
- vamos pela beirada.
- vamos, mas começa.
- tem fracasso no meio, ah, no começo também.
- ainda bem que ainda não chegou o fim, ainda podes modificar. 
- modificação, como areia movediça.
- areia movediça, como areia movediça no coração. não te falei, mas a faculdade anda uma droga, ando com medo, sinto vontade de me matar. 
- não se mate.
- não sei se vou.
- melhor não se matar, não torne breve essa brevíssima vida.
- como um fosforo acesso. 
- como o pouco combustível. 
- um fosforo.
- numa noite de escuridão.
- como noite, como noite.
- vai amanhecer.
- mas é tarde para tanta coisa.
- eu diria cedo.
- pode ser, ontem eu me afoguei.
- eu sei, teus pés ainda carregam grão de areia.
- mas eu voltei do fundo.
- eu vejo a vida.
- aqui.
- aqui. 

Marcos Samuel Costa

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