Incêndio em Ana


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(Djanira - " descansando na rede " , óleo sobre tela, 54x61)


- anai-e-i-ai ana, meu amor, amada-ana-ie-a-ia-ana

cantava sem força nos joelhos, língua de três golpes. de braços abertos me queria fogo. sem a sexualidade eu dizia: "não mais ereto. não mais firme". eram meus longos dias de treze anos. meu pênis fazia parte da tarde quente. deitado na cozinha de casa, as tábuas eram meu colchão - os movimentos rápidos. olhava a lembrança dela na minha mente. teve o dia, o dia que vi sua calcinha amarelada de água sanitária, seus peitos firmes. dentro de sua boca meu todo. queimávamos tanto que ela pulou no rio.
eu fiquei no chão. ainda não sabia ter escamas de cobrir o corpo.
cantava sem força, a voz de homem ainda não era totalmente minha, algo ainda arranhava minha garganta. devia ser meu dragão. era tempo sem celular, nos falamos apenas na catequese - simbolicamente primitivos de cristo, iriamos aprender os bons modos, batismo de águas poucas. meu amigo protestante se orgulhava do batismo em alto mar. a inveja me molhava também. lembrava dela. a noite nesse tempo vinha mais cedo, era depois da novela, ia deitar ainda com as acelerações no peito. meu cachorro deitava debaixo da cama. já dormindo ouvia mamãe botando ele para fora: "sai creito, sai". que nome feito coloquei nele na época, creito.

- anai-e-i-ai ana, meu amor, amada-ana-ie-a-ia-ana

ela nunca ouviu a música que fiz para ela. morreu cedo... queimava numa noite de incêndio. 



marcos samuel costa - prosa 2018

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