não quis amar



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Quis amar. 

Bastava lembrar da temperatura do corpo que despejava sapos em meio a carne novíssima para acelerar o amor. Queria ter algo para si - um campo de anzóis, batatas frias a água gelada, uma visão real do peito de uma gata. Ou um livro bem escrito. Seu apego por intermédios era cruel, sua crueldade mesmo era deixar bichos vivendo dentro de seu crânio e estigmatizava as suas locuções. Foi um professor na mais cruel das decisões, queria outra coisas, mas foi fazer filosofia na estadual do Pará. Sua dor era sua verdade. De uma forma simples - batia flores em seu liquidificador e bebia tudo sem gelo, achava que a poesia era uma mistura do belo e formal. Ao falar de Sócrates desvanecia as longas folhas secas de cedro. Seus alunos dormiam em aula. Traiçoeiro e não apenas, Feliz. Vinha voltando de uma noite com os amigos, fechou os olhos. Sentiu um morto passando em seus cabelos as mãos e um carro trazendo flores. A atropela suas horas. Fechou os olhos. Quando ouviu um som incomum, lhes abriu outra vez. Dois mortos em sua frente. Duas moedas de um real. Pegou as moedas e seguiu. Mas antes decidiu amar um daqueles dois corpos mortes e ter o orgulho no peito de ter vivido um grande amor. Depois veio o tempo e o matou.


Marcos Samuel Costa - contos

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